01/04/08

É maravilhoso. Veres como a memória das coisas te vai recordando que a genética é infalível, invencível, imortal até. Mesmo que tentes engana-la, que lutes contra ela. quando eramos crianças, quando eramos jovens, lembras-te? voltemos para dentro. Anos e anos de traços genéticos, comportamentos sociais, que dizemos que não temos, que não somos... exactamente o que somos, o que tentamos não ser. irónicamente delicioso não?


E vamos afundando o nosso corpo com camadas, embrulhalo em roupas, umas após outras, aprendidas, formadas, rerpreendidas, enterradas, escondidas. é inútil, somos o que somos, o que nascemos, géne após géne. Passamos anos a tentar mudar as coisas, a renegar. eu não sou assim. e no fim, como te sentes? não sei. enganado. Depois tento identificar o último momento que me lembro em que para mim ele era ele, em toda a sua magia, brilho, encenação, tal como reside na minha memória. Quando queimaram o caixao? quando fecharam a tampa? quando exalou o ultimo sopro? quando se sentou e disse uma coisa? quando te reconheceu pela última vez? quando sorriu pela ultima vez? as últimas semanas foram difíceis, a cada dia que passava pensava, não, ele não pode ficar mais longe do que ele era. no entanto, a cada dia que passava, ele ficava. então tentei lembrar-me qual foi o último momento em que o vi, em que ele estava, inequivocamente, lá...

o que estás a fazer ai em cima? o mais rápido que consigo... estás a usar uma chaves philips? não. por isso é que tás a demorar tanto, deixa-me fazer isso... já está pai. tens a certeza que vai segurar? absolutamente. posso largar? absolutamente. vou largar devagar. não te disse? o momento da verdade, e haja luz.


Ah, aí estás. Esse, é, talvez, o momento, em que o vi pela última vez. voltarei sempre a esta terra, ao primeiro estado. Inequivocamente, o géne.


Boa, o que há a seguir?